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terça-feira, 6 de abril de 2010

A garota do metrô - Parte I


Como era de costume, a música alta lhe fazia companhia enquanto caminhava até a estação do metrô. Renato tinha a mania de ouvir suas músicas sempre num volume muito alto. Às vezes, sentia até certo incomodo, mas era somente assim que conseguia se desligar do mundo, e pensar um pouco em si mesmo. Um dia, esqueceu seus fones no trabalho, e não pôde voltar para casa ouvindo suas canções prediletas. Até tentou pensar um pouco na sua vida, mas a conversa entre duas mulheres de meia idade acabaram lhe chamando mais a atenção. Chegou em sua casa sabendo como que se tira mancha de ferrugem da roupa. Raramente ele e deparava com algum ferro enferrujado, o que fez a conversa que ouviu parecer mais inútil do que realmente era.
O dia estava estranhamente frio embora fosse verão. Provavelmente era uma daquelas frentes frias que vem de algum lugar, em direção a outro lugar, mas que sempre passam pelas cidades, deixando uma boa parte da população doente. Uma chuva fina caia, fazendo com que as pessoas exibissem com certo orgulho seus guarda-chuvas coloridos. Renato gostava de observar o mar colorido que se formava, mas preferiria que fossem todos pretos. Se assim fosse, sentir-se-ia caminhando pelas ruas de Londres.
Entrou na estação do metrô. Já não precisava pensar qual caminho seguir. Suas pernas pareciam que tinham vida própria, e sabiam exatamente para onde levar aquele corpo desajeitado. Tudo estava da mesma forma. O hoje era realmente idêntico ao ontem, com exceção da temperatura e da camisa, que Renato, como de costume, as quartas-feiras, sempre usava camisa azul. Tudo era igual, até os olhos de Renato focarem ela.
A garota estava do outro lado da plataforma, no sentido inverso ao que Renato sempre fazia. Ela era realmente muito bonita, tinha cabelos negros, uma pele branca, parecendo feito de cera, e o modo como se vestia era uma mistura das estrelas de cinema dos anos cinqüenta com uma influência underground das grandes metrópoles. Renato hipnotizou-se. Jamais havia visto um ser tão perfeito como aquele. O frio abandonou seu corpo. O verão voltou a reinar dentro de Renato. O trem passou, uma enorme massa de pessoas se amontoou. Ele a perdeu de vista.
Renato passou o dia inteiro pensando em Andrea, nome esse, dado pelo próprio, pois se cansou de pensar nela como “a garota do metrô”. Andrea soava-lhe pomposo, bonito e atraente, assim como ela. Achou que nunca mais a veria, e no dia seguinte, quando não a encontrou novamente, teve certeza que jamais saberia o verdadeiro nome dela.
Duas semanas mais tarde, Renato esperava o trem do metrô, como de costume, seus fones de ouvido gritavam “Please, Please, Please, Let Me Get What I Want” , dos Smiths. E com essa trilha sonora, ele a avistou entre tantos. A viu pela segunda vez, mas parecia que já a tinha visto milhares de vezes, o que faz um pouco de sentido, já que Renato sonhara com Andrea algumas noites. Desta vez, ela também o viu. O trem que ela esperava chegou. Delicada, sentou-se em frente a janela, deu uma olhada no relógio, e voltou seus olhos para Renato. Sem pensar, ele sorriu, talvez de nervoso. Ela encabulou-se, e sorriu em retribuição. As portas do vagão se fecharam, e ela se foi.
Renato desceu na estação errada. Esqueceu de pegar o troco da coca que comprou, e quase foi atropelado quando atravessou a rua no farol vermelho para pedestres. Ele só pensava no dia seguinte, se iria revê-la novamente. Certeza, só tinha uma: amanhã será quarta-feira, e ele não usará azul.

1 comentários:

Anônimo disse...

Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaa

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E eu te pergunto: E dai?