Powered By Blogger
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Filosofia




Mais um dia começava. Mais uma segunda-feira. Para a maioria das pessoas, segunda-feira é um dia odioso, mas para aquele grupo de estudantes, que se aglomeravam na escadaria da faculdade, era diferente. Segunda-feira era um dia incrivelmente absurdo. Dia de aula de filosofia. Filosofia só no nome, porque aquelas aulas serviam para tudo, menos para filosofar.
E de algum lugar, do inferno ou do asilo provavelmente, vinha ele. Daniel descia às escadas em direção a sala em meio a muita energia negativa, pois como de costume, os alunos mais sensatos desejavam que ali acontecesse um escorregão. Não para matar, ou para quebrar algum membro, mas só uma boa torção e um constrangimento público seriam o suficiente. Mas isso nunca acontecia. O velho caminhava com passos curtos e firmes, e segurava sua maleta com tamanha satisfação que pareciam amantes caminhando em Paris. Pensando por esse lado, certamente a maleta era sua única amante. O corte de cabelo franciscano, que devido a idade era obrigatório, fazia sua careca refletir os suaves raios de sol daquela manhã. Na sua face, a serenidade era similar a do Rei Herodes, pouco antes de mandar que cortassem a cabeça de João Batista. Sim, naquele dia muitas cabeças iriam rolar.
A Prova final do professor Daniel era sempre temida pelos alunos. Alguns haviam estudado, alguns haviam feito cola, e alguns haviam se apegado a crenças religiosas, pois somente um milagre os salvaria. Mas para o professor, aquilo tudo era sensacional. Fora o bingo, dar aulas era, provavelmente, seu único meio de lazer. Não acredito que um ser humano com aquela linha de pensamento seja muito inclusa socialmente.
Sentaram então nas cadeiras já devidamente perfiladas. Quem apelou para as colas, teve que apelar para a fé, já que Daniel caminhava freneticamente pela sala a procura do seu único e solitário orgasmo: pegar alguém colando. Desfilava pela sala esperando apenas uma cabeça para colocar na sua bandeja. Como único gagá na sala era o professor, nenhum aluno ousou tirar suas folhas com letrinhas miúdas do bolso.
Aos poucos, os alunos iam terminando a prova. Por mais que tivessem ido mal, o alivio de saber que no semestre seguinte não teriam que topar com a prepotência daquele pseudoprofessor os consolava.
Estavam na escada novamente. Três meninas, com o caderno aberto, soltavam gritinhos de esperança a cada texto que fazia com que elas se certificassem que haviam acertado. Um grupo discutia em alto e bom som qual era a maneira correta de se preparar chá de cogumelos, e um outro grupo apenas ouvia tudo. Antes mesmo de vê-lo, os alunos ouviram o som do salto do sapato devidamente lustrado do professor. E lá vinha ele novamente. O que ele faria naquela tarde? Corrigiria as provas apenas de cueca na sua cama? Se masturbaria imaginando Platão e Sócrates numa daquelas orgias da Grécia antiga? Jogaria uma partida de truco com o capeta?
E os passos firmes começaram a subir a escada. Naquela ocasião, nem perder tempo com energias negativas os alunos quiseram. A discussão sobre se os cogumelos são cozidos em banho-maria ou não estava mais interessante.
A única coisa que viram foi a maleta marrom, que assim como os pássaros daquela manhã, voou alegremente para a extremidade da escadaria. As folhas brancas, que se soltaram, pairavam no ar, e caiam feito grandes flocos de neve. Em terra, aquela avalanche de arrogância e prepotência deslizava escada abaixo. E como em Romeu e Julieta, os dois amantes estavam caídos no chão, observados apenas por aquele seleto grupo de amigos.
E foi naquela segunda-feira, que Daniel finalmente ensinou filosofia para seus alunos.
Indo contra Karl Marx: Nem tudo que é sólido se desmancha no ar.

5 comentários:

Thiago Gacciona disse...

Animal velho...
Criticas verdadeiras e com um teor de raiva interna consignada...
Parabens...
Pé nos bagos!!!

Lih 457 disse...

Mewwwwwwww, Gato, q show!!!!
Falou o q todo mundo pensa mas nunk colocou no papel. Aliás, de nada adiantaria qualquer pessoa escrever sobre, pq esse talento eh seu!
Parabéns!!!!!!

Fernanda G. disse...

Só vc mesmo Carlão, que talento mulequeee....

heheh a propósito, os cogumelos são cozidos da água fervente com duas colheres d alcool e coados em pano.....

putz, to pensando em fazer um blog mas nao rola escrever sempre...

se cuida

beijo

Unknown disse...

Não tem nem o que falar. Fantástico velho... Muito bom mesmo. Bem que o daniel podia ler isso.
Abraço

Unknown disse...

Jon sou eu, Joãozinho da facu. hahaha abraço

Postar um comentário

E eu te pergunto: E dai?